Raio de ideia a minha de passar este inverno todo cá na terrinha. Não aguento mais chuva e frio.
(trechos do livro "Arte de viajar" de Alain Botton)
É difícil dizer quando chegou ao certo o Inverno. O declínio foi gradual, como alguém que envelhece, imperceptível entre um e outro dia, até que a estação se tornou uma situação de facto inexorável. Primeiro ocorreu um arrefecimento da temperaturas nocturnas. Depois chegam os dias de chuva ininterrupta, as rajadas desordenadas de vento atlântico, a humidade, o cair das folhas e mudança e hora nos relógios. Continuavam a verificar-se, em todo o caso, tréguas esporádicas, manhãs de céu limpo e luminoso, que permitiam que se saísse de casa sem agasalhos. Mas tratava-se de qualquer coisa como os sintomas enganadores da remissão num paciente sentenciado pela morte.
Estas condições metereológicas, ao mesmo tempo que toda uma série de outras coisas que então aconteciam (cada um de nós deveria engoliar um sapo todas as manhãs para ter a certeza de que durante o resto do dia não terá de se haver com outras coisa mais repugnantes), conspiraram para me deixar extremamente vulnerável perante a chegada imprevista de um extenso e vivamente ilustrado documento chamado "Sol de inverno" que certa tarde me veio ter às mãos. Os organizadores da brochura tinham sinistramente intuído com que facilidade os seus leitores poderiam ser presas dos fotógrafos, cujo poder representava um insulto à inteligência e refutava qualquer noção de liver arbrítrio: fotografias ostentatórias de palmeiras, céus lavados e praias brancas.
A nostalgia que a brochura suscitava era um exemplo, comovente e ao mesmo tempo ridículo, do modo como os projectos, e até uma vida inteira, podem ser inflectidos pelas mais simples e irreflectidas imagens da felicidade; do modo como se pode lever alguém a empreender uma demorada e devastadoramente dispendiosa viagem por meio de não mais que a fotografia de uma palmeira amenamente inclinada e tanjida por uma brida tropical.
Se as nossas vidas são dominadas pela busca da felicidade, talvez poucas actividades sejam tão elucidativas no que à dinâmica desta busca - com todo o seu ardor e paradoxos - se refere como as nossa viagens. Ainda que inarticuladamente, expressam uma inteligência do que viver deveria na sua essência significar, à margem das imposições do trabalho e da luta pela sobrevivência. (fim de "plágio")
Continuo a gostar e a "viajar em espirito" quando vejo fotos de palmeiras numa praias ao pôr-do-sol, mas já não é só isso que procuro. Digo com soberba, isso é de turista, eu sou viajante.
Em breve recomeçarei a escrever neste endereço sobre o tema do costume. Para já só sobre a antecipação da(s) viagem(s), a partir de 18 de Abril sobre a "terra de lá de baixo", onde à 4 anos prometi voltar em breve mas que, por uma razão ou por outra, me tem falhado nas escolhas de destino.
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1 comentário:
Bem me parecia que a chuva era só um pretexto para outras paragens.
Nesse caso, temos de marcar um rodízio de pizzas para comemorar a tua partida. Alinhas?
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